sexta-feira, 23 de março de 2007

Um Mandato Agitado

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A minha paciência com quem gosta de colocar rótulos em cima de pessoas que, somente, ousam expressar as suas opiniões materialmente desinteressadas é manifestamente reduzida. Tão reduzida como o tempo de que disponho para discussões pueris, improdutivas e sem sentido. Ao receber o convite do amigo João Pela para emitir uma opinião, em jeito de balanço, a respeito deste mandato, oscilei entre a recusa baseada no pragmatismo do pouco tempo livre de que disponho e a tentação de jogar cá para fora qualquer coisa que, inevitavelmente, vai ser sinónimo de rótulo…

Mesmo antes de tentar dizer alguma coisa de jeito, terei de assumir já ter sido um adepto azul mais doente. Enquanto criança e adolescente, sofria do vício profundo que atinge a maioria dos nossos cada vez menos associados de sangue azul da cruz de Cristo. Para cúmulo da paciência dos meus familiares e amigos, até autocolantes desenhei para colocar ao peito de toda a gente que apareceu na festa do meu 12º aniversário: "Obrigado pelos parabéns e como cá estás toma lá este autocolante".

Os anos foram voando, os jogos passaram a ser em horários impróprios para deslocações ao Restelo e outras prioridades foram-se estabelecendo. Pelo meio, aterrei, em mau momento, na outrora famosa ML do Belenenses, numa época de confrarias alentejanas e de lá saí sem saudades. Regressei com maior assiduidade a Belém no momento em que descemos (mas não descemos) de divisão. Género "toque a rebate", senti que não podia ficar mais tempo afastado e, finalmente, tornei-me associado (no passado foram várias as tentativas e os falhanços de quem estava a 150 km. de distância e se via confrontado com um carente serviço de relações públicas). A propósito, campanhas de novos associados precisam-se.

Antes do caso Mateus, do presidente do clube apenas sabia o nome, pois não compro e tampouco leio, jornais desportivos dedicados a Benfica, Porto e Sporting.

Que a situação económica e financeira é má, que a época desportiva anterior foi catastrófica, que o clube permanece a perder associados ou que nada de estruturante foi executado, já toda a gente sabe e nem vale a pena perder tempo com balanços. Porém, durante o caso Mateus e na actual época futebolística, apreciei a actuação do presidente.

Na minha óptica, é importante, este ano, ganharmos a Taça de Portugal e irmos à UEFA ficando no melhor lugar possível no campeonato. Porém, ficaria muito mais confiante no futuro do clube se visse passos em frente na construção de um projecto estruturante. A componente imobiliária, a expansão para o concelho vizinho, a parceria com um grande clube europeu (temos laços históricos com o Real Madrid que urge potenciar), a recuperação das Salésias e do complexo desportivo, o repensar do Bingo, a formação e prospecção de novos talentos, a aposta no marketing, imagem e modernidade, o profissionalismo, etc., etc.

Não quero com isto, jamais, dizer que as conquistas do futebol não são importantes. São tão importantes que se bem aproveitadas poderão acelerar (bastante) o nosso crescimento.

O meu balanço final não será do agrado da linha de pensamento maioritária na blogosfera azul e que crucifica Cabral Ferreira, género vilão responsável por não sermos campeões nacionais desde 1946 (com todo o respeito, o titulo da 2ª Divisão não conta para as minhas estatísticas). Tive oportunidade de o conhecer em rápidos momentos e não poderei acrescentar mais nada ao que toda a gente reconhece acerca da sua simpatia e cordialidade. Antes do caso Mateus, a avaliação seria negativa. Todavia, após essa altura, parece ter existido um bom trabalho na gestão do dia-a-dia e nas opções da nossa equipa de futebol. Os resultados, até ao momento, são uma surpresa, a equipa joga à bola como não se via desde os velhos tempos de Marinho Peres e Jorge Jesus é, em si mesmo, uma revolução crescente e que se deve saber aproveitar.

Seja como for, eu não irei votar. Não porque não queira ou por ter quotas em atraso, mas porque os Estatutos não me atribuem esse direito. Sou associado recente e quiçá perigoso.

Enquanto nos mantivermos preocupados com o acessório, dificilmente chegaremos ao essencial. Mesmo assim, continuo a acreditar que o nosso futuro pode (se quisermos) ser bem azul.

Luís Silva do Ó, associado nº 30665


PS: Este foi o meu balanço possível. A respeito das eleições que se aproximam, apreciei o projecto que pude ler da autoria da candidatura de Gouveia da Veiga e, ainda sem conhecer nem nomes ou projecto, considero muito improvável que a vitória fuja a Cabral Ferreira.

PS2: Já depois de ter "fechado" este texto, surgiram novos dados positivos para o actual presidente azul. A entrevista de Cabral Ferreira ao jornal "A Bola" e o anúncio da parceria com o Real Madrid – facto importante que interessa conhecer em detalhe.

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